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As casas brancas da Aldeia da Carrapateira estendem-se harmoniosamente pelo sopé da encosta, resistindo aos ventos fortes da Costa Vicentina, enquanto as ruas íngremes e estreitas abrem caminho a diferentes aventuras e experiências. Venha visitar o mercado e prove os produtos tradicionais, descubra a Igreja e explore a fortaleza que protegeu a aldeia dos ataques dos corsários marroquinos no século XVII.
A Aldeia da Carrapateira cresceu no cimo de um cerro, ao sabor do terreno íngreme, paredes meias com a costa litoral a sudoeste, no concelho de Aljezur. Entre falésias e dunas, paragens agrestes e húmidas, ventos fortes e um mar violento que chicoteiam as escarpas escorregadias, os habitantes desta aldeia cedo souberam adaptar-se às difíceis condições naturais da região.
Construíram casas térreas, imaculadamente brancas, coladas umas às outras e erguidas em taipa, com telhados de uma só água - esta última característica é uma herança dos povos do norte de África quando aqui habitaram e que usavam esta técnica de construção. Aliás, foi o período árabe, entre os séculos VIII e XIII, que mais influenciou a história e o modo de vida dos habitantes da Carrapateira, embora achados arqueológicos atestem a presença do homem no período do Paleolítico Antigo ou Médio nesta zona. São também dadas como certas as presenças celtas e romanas, bem como a de fenícios e gregos que terão usado a Ribeira da Carrapateira como ancoradouro para embarcações.
Hoje, a Carrapateira é mais do que um povoado de agricultores e de pescadores, de gente simples que ama a terra onde nasceu. Ela é também uma aldeia frequentada por amantes da natureza, dos desportos radicais, como o surf e o kitesurf, que procuram as praias locais com excelentes condições à prática destas modalidades. Este cruzar entre visitantes e residentes imprime um toque “cosmopolita” à aldeia que se manifesta com mais visibilidade no Largo do Comércio.
Largo do Comércio
É o ponto de encontro dos habitantes, onde a vida coletiva e social acontece, é também aqui que se situam as lojas de artesanato, os cafés, as casas de petisco e o tradicional mercado municipal. É um espaço amplo, muito apreciado pelos habitantes, onde podem fazer as suas compras, comprar o jornal ou fazer um passeio a pé. Ocasionalmente realizam-se espetáculos de variedades e outras festas. É o lugar de eleição para os divertimentos públicos, para a realização de procissões e de outros eventos. Nas noites de calor, o largo é o espaço privilegiado para o convívio. A partir do Largo do Comércio abrem-se ruas que permitem conhecer o restante povoado, bem como o Museu do Mar e da Terra – espaço museológico que preserva a identidade local - localizado no topo da aldeia é um verdadeiro miradouro sobre o atlântico e a paisagem dunar. O núcleo urbano alberga ainda a Igreja e a fortaleza da Carrapateira, testemunhos da história da aldeia.
Da Igreja de Nossa Senhora da Conceição à Fortaleza Erguida no cimo de um cerro, de onde se avista a costa, a Igreja da Carrapateira está envolta em algum mistério, pois desconhecem-se informações essenciais. Não se sabe ao certo a data da sua construção, mas algumas investigações apontam que o templo tenha sido edificado durante a primeira metade do século XVI. O culto é dirigido à Imaculada Conceição de Maria. Padroeira do Reino de Portugal desde 1325, a Virgem foi coroada rainha pelo rei D. João IV, em 1646, após a restauração da independência. Os habitantes da aldeia pedem-lhe proteção, em especial os pescadores que lhe dirigem as orações quando vão para a faina e têm que enfrentar um mar revolto.
A fachada pura e minimalista da igreja e as duas portas manuelinas, de cantaria lavrada, são um convite ao seu interior de uma só nave, onde se destacam um altar em talha dourada do período barroco e duas tábuas quinhentistas, atualmente colocadas na parede frontal de alvenaria branca, e q ue representam Santo António de Lisboa e São Pedro. De acordo com o historiador Vítor Serrão, é provável que estas obras tenham saído da mesma oficina, possivelmente situada em Lagos, cidade onde operavam algumas oficinas de pintura maneirista, por volta de 1570. Embora se desconheça a autoria das pinturas, há indícios de que se tenha tratado de um mestre, também autor das duas tábuas da Igreja Matriz de Vila do Bispo, praticante da modalidade de óleo, e que pertenceu à primeira geração da pintura maneirista portuguesa. A pia baptismal hexagonal, de pedra calcária de cor amarelada, é outro elemento assinalável do período manuelino. No lado direito da fachada principal da igreja existe ainda um simples campanário, com um pequeno sino inglês, onde se lê em grandes letras a palavra “WAIMATE”. Crê-se ser uma referência ao navio “SS Waimate” (1896-1925), que naufragou a cinco milhas ao largo do Cabo de São Vicente, carregado de carvão, quando realizava uma viagem de Clyde, cidade do estado norte-americano de Carolina do norte, para Génova, em junho de 1925. É muito provável que o sino tenha sido resgatado e colocado no campanário para cumprir os fins religiosos.
Por encontrar-se entre duas praias de muito fácil acesso, a do Amado, a Sul, e a da Bordeira, a norte, a aldeia da Carrapateira estava exposta a ataques de corsários e piratas marroquinos que saqueavam a povoação, as suas casas – ainda hoje as casas preservam no seu interior as passagens secretas que os habitantes usavam para fugir dos temíveis corsários marroquinos que atacavam a costa litoral vicentina -, profanavam a igreja, pilhavam as relíquias sacras e capturavam os habitantes. Perante esta situação de permanente terror os habitantes da Carrapateira pediram proteção ao monarca. As suas súplicas foram atendidas pela corte em 1673, por D. Nuno da Cunha e Ataíde. Sensível ao terror da população, o Conde de Pontével e Governador do Reino do Algarve mandou edificar um forte, com um formato de estrela de quatro pontas, em redor da igreja, para efeitos de defesa militar. A fortaleza foi construída a 1.200 metros da praia sobre o cabeço da Carrapateira, com uma altura de 70 metros. Tinha ângulos reentrantes e em cada uma das suas pontas estavam artilhadas com seis peças de fogo e onze soldados. Consta que depois da construção da fortaleza, nem a igreja nem a população voltaram a ser alvo de ataques de piratas. Com o decorrer dos anos, a fortaleza foi sofrendo deterioração progressiva. Atualmente, já não apresenta o traço e a extensão originais e só uma parte faz parte da construção inicial.
Última atualização: 20-07-2025
Morada: Carrapateira
Código Postal: 8670
Localidade: Carrapateira - Bordeira
Localização (Lat., Lon.): 37.183373, -8.895375